quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Memórias que se dissolvem no chão




Uma gota do sorvete pinga no chão. Está derretendo, mas ela não parece se importar. A mala, bem pequena tem o fecho quase estourado com as roupas colocadas às pressas. Uma oportunidade é tudo o que ela tem. Se não for agora provavelmente nunca mais terá tal coragem. O trem apita, seu telefone toca, ela olha rapidamente para trás e entra.

Todos os dias milhares de pessoas sentem, tocam, passam. Todos os dias pessoas que não se conhecem se cruzam e evitam se olhar nos olhos para evitar conhecer, evitar a partida que vem no final de cada começo.

Tem os sonhadores, aqueles que procuram uma jornada com aventuras, destemidos e intrigantes. Tem os que partem com a solidão, com a esperança de um novo recomeço levando lembranças.

Há encontros, desencontros, sorrisos, lágrimas. Na vida eu sou a estação, e mesmo quando todos se vão, eu fico aqui à espera de qualquer passageiro. E é nesse momento que me agarro as lembranças.

Uma memória, uma mala perdida, um livro esquecido em um banco, um lenço caído no chão ao acaso. E são essas coisas que me sustentam. Que mantém minhas vigas de pé em meio a tanta solidão.

Mesmo quando sinto as vigas cederem e rangerem ao menor vento pelo tempo que as consumiu, as pequenas lembranças me forçam a continuar, a não fraquejar e esperar por mais um sorriso, mais um abraço de encontro, de despedida, mais um sorvete que pinga no chão, mais um beijo não dado, mais uma mala lotada de memórias que derramam e se dissolvem no chão. Sozinha.


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